quinta-feira, 15 de março de 2012

Londres

 London Eye ou Millennium Wheel 












Big Ben

domingo, 13 de março de 2011

Galápagos





































































06.03.2011
Logo após embarcarmos, descobrimos que nosso vôo teria conexão em Guayaquil, cidade esta considerada a Capital Econômica do Equador. 
Aproveitamos para comprar um pente da Barbie, pois havíamos esquecido o nosso no Rio e o único disponível era essa ‘maravilha’ pela qual ainda tivemos que pagar dez dólares! Por sorte, havia wi-fi no aeroporto, e passamos o tempo na internet, já que não tinha nada mais interessante para fazer.
Durante o vôo, aproveitei para terminar minhas anotações sobre Quito e ainda sobrou tempo (e bateria) para baixar as fotos.
Logo após o pouso, tivemos sorte: estávamos no último assento e, por milagre, a porta traseira se abriu!
Saímos correndo para uma fila (literalmente) quilométrica que nos aguardava para pagarmos a taxa de entrada da ilha (dizem que em Fernando de Noronha é o mesmo inferno, na entrada).
Depois de mais de uma hora de espera, sob um sol escaldante, conseguimos finalmente pagar os cinquenta dólares que todo turista do Mercosul e da Comunidade Andina deve desembolsar para conhecer Galápagos (os demais pagam cem dólares!).
O ‘transfer’ que constava no nosso pacote era, na verdade, um ônibus público que todos os turistas que chegam na ilha devem pegar até o ferry boat que nos leva até a Ilha de Santa Cruz.
Não pude deixar de perguntar por qual razão o aeroporto estava situado na deserta Ilha de Baltra, e nossa guia explicou que as instalações foram doadas pelos EUA logo após a segunda guerra mundial, já que a área havia sido utilizada como base militar. Como era relativamente próxima de Santa Cruz, o governo do Equador entendeu por aproveitá-la, economizando recursos financeiros... Agora está explicado.
Além de ficar em uma ilha absolutamente deserta, o aeroporto está situado no lado oposto de Puerto Ayora, vilarejo onde se concentram todas as atividades turísticas. 
Durante o transfer, já de automóvel, aproveita-se para fazer uma espécie de tour surpresa, com trajes absolutamente inapropriados e fome de leão, pois chegamos muito após o meio dia (e o fuso horário ainda é uma hora a menos de Quito).
A primeira parada foi em “Los Gemelos”, duas crateras de vulcões extintos, totalmente cobertos pela vegetação típica da Ilha. A guia nos prestou algumas informações sobre a flora local, mas confesso que não prestei muita atenção, pois meu “foco” estava direcionado exclusivamente para meu novo “brinquedinho” de tirar fotos.
Só me lembro dela se referindo a um tal “Palo Sagrado”, nome curioso que acabou me chamando a atenção. É uma árvore, cujo nome foi atribuído em função do odor específico   quando da queima de sua madeira, o qual também serve para espantar insetos (mais tarde teríamos vontade de cometer um crime ecológico e queimar muitas delas...).
A parada seguinte foi uma reserva de tartarugas gigantes (isso mesmo, já íamos vê-las assim logo no início!). A primeira com a qual nos deparamos parecia um filhotinho, mas depois descobrimos que se tratava, na realidade, da fêmea, que pesa apenas setenta e cinco quilos, enquanto os machos podem chegar até duzentos e cinquenta quilos! Coitadinhas! Outra diferença significativa entre os gêneros é o tamanho do “rabo” por trás do casco (o dos machos é muito maior) e a curvatura da parte inferior do casco (a do macho é côncavo, para permitir um ‘encaixe’ mais adequado, no momento oportuno!).
Logo vimos a primeira (ou melhor, o primeiro) tartaruga gigante! Eu quase saí com ‘L.E.R.’ nos dedos, de tanto que tirei fotos (que trabalho selecionar depois!). O bichinho era muito fofo! Não demorou muito para vermos outra e depois outra... Mas foram as únicas a serem avistadas por ali, já que, nesta época, todas as fêmeas e os machos que se deram bem estão pela costa, por se tratar de época da desova. Só restam mesmo os encalhados. 
E, como era de se esperar, acabam brigando entre si, fato este que nós mesmo presenciamos. A nossa guia disse que o motivo da briga seria o território, mas, no fundo mesmo é a falta de algo mais interessante a fazer... Só faltou aquela advertência típica: “Qualquer semelhança com o gênero humano é mera coincidência...”
Depois de abandonarmos nossos três coleguinhas solitários, visitamos uma caverna que, segundo o pouco que consegui entender, trata-se de um dos canais por onde, há milhares de anos, saíam as lavras dos vulcões, ricas em basalto. Perguntei se não havia nenhum risco de entrarmos ali, mas fomos acalmadas com a informação que o vulcão estava inativo há vários anos... A guia só esqueceu de nos advertir para levar capa de chuva para a máquina, pois o lugar é tão úmido, que parece chuviscar.
Após passarmos por alguns vilarejos agrícolas, chegamos, finalmente, no vilarejo turístico onde teríamos apenas uma hora para fazer o check-in, tomar banho e almoçar (que maravilha!), para depois irmos ao centro de estudos Charles Darwin).
Ao chegarmos no hotel, me senti entrando em uma cópia mal feita daquele famoso edifício projetado por Gaudí, “La Pedrera”, em razão de possuir as mesmas curvas. Como estávamos com “sorte”, acabamos sendo brindadas com a suíte do quarto e último andar em um prédio que, contudo, não tinha elevador...
Após almoçarmos um rápido sanduiche de champingones, para nossa surpresa, o “transfer” seria a pé mesmo. Nossa maravilhosa guia nos buscou no restaurante, que havíamos estabelecido como ponto de encontro, para aproveitarmos ao máximo o (curto) tempo disponível, pois o hotel ficava a umas três quadras da rua principal.
Por sorte, o Centro de Estudos Charles Darwin ficava exatamente no final da rua principal,  o que é aparentemente lógico, já que esta rua foi batizada com o nome do Instituto de Pesquisas.
Alguns setores deste Instituto estão abertos à visitação turística, mas há outros setores de acesso exclusivo aos pesquisadores, estudantes e voluntários.
O primeiro bichinho que encontramos foram as abundantes iguanas marinhas, com as quais ainda encontraríamos frequentemente até o fim de nossa aventura.
Elas costumam ficar juntas fora da água, pois precisam umas das outras para manterem a temperatura corporal, já que não possuem aquela capacidade que temos de auto-regulação térmica, cujo nome específico não me vem à memória - pelo menos foi essa a justificativa que a nossa guia deu quando nossos coleguinhas brasileiros, que conhecemos ainda no hotel de Quito, perguntou se eram um casal, já que estava uma sobre a outra, mas se tratava de duas fêmeas.
De repente, uma iguana decidiu “espirrar”! Esta é uma forma bastante interessante (e engraçada) que as iguanas encontraram de expelir o resto de sal proveniente das algas que lhe servem de alimento. 
Galápagos é o único lugar do mundo em que as iguanas terrestres desenvolveram a aptidão de tornarem-se marinhas, devido a escassez de alimento na terra durante o período de seca, que vai junho a dezembro. Sua pele se tornou mais escura, como  uma excelente “estratégia” para se camuflarem nas pedras, além de terem desenvolvido garras  mais precisas para conseguirem se prender às pedras com mais eficiência.
E, estas aptidões, segundo a vigente teoria da evolução de autoria cujo nome serviu para apadrinhar o instituto de pesquisa, teria se dado mediante a seleção natural daqueles indivíduos que tiveram mudanças genéticas que facilitaram tal processo. No entanto, nós ousamos discordar parcialmente desta teoria, já que há cada vez mais pesquisas que confirmam a interferência ambiental na modificação dos genes (epigenética), as quais talvez apresentam-se mais adequadas que a antes considerada alteração genética meramente aleatória. Apenas espero que eu não seja tão esculachada quanto Lamark o foi ao justificar o tamanho do pescoço das girafas.
Depois desta breve parada para “cumprimentarmos” as iguanas, fomos em direção às nossas amigas prediletas: as tortugas gigantes. Não sem antes, pelo caminho, termos uma extensa aula sobre botânica.
No início, a guia ficou meio irritada, pois enquanto ela tentava falar sobre a natureza e características dos cactos, eu e a brasileira que estava conosco estávamos “desesperadas” tentando encontrar o melhor ângulo para fotografar um lagartinho de papo vermelho (trata-se de um parente da iguana em versão reduzida). É que a tal brasileira é tão viciada em fotografia como eu, para a infelicidade da nossa guia.
O pouco que consegui entender da nossa aula express de botânica, é que os cactos foram plantas que se adaptaram muito bem às ilhas de galápagos, já que possuem reserva suficiente de água para resistir a extensos períodos de seca. Suas raízes atingem até trinta metros de profundidade, para obtenção de águas em áreas inatingíveis por outras plantas, e o ‘equitus giganteos’ é uma espécie de cactos endêmica que atinge até sete metro e meio de altura 
Ela explicou, também, que a diferença entre espécie nativa e endêmica é que esta última é de origem exclusiva do local, enquanto a nativa se refere à uma espécie que é naturalmente encontrada em determinado local, mas que pertence igualmente a outros, sem que, contudo, tenham sido introduzidas pelo homem artificialmente.
Os cactos são excelente fonte de alimento para as tortugas, já que através dele podem obter os nutrientes e água de que necessitam. Sua língua é suficientemente resistente aos espinhos, que são cuspidos após a ingestão da planta.
Elas chegaram provavelmente da mesma forma que suas coleguinhas iguanas e lagartinhos: levadas pelas correntezas do mar. Seus ancestrais eram menores, o que certamente teria facilitado a flutuação, já que é difícil imaginar a flutuação daqueles monstros de duzentos quilos.
Como as tortugas não tinham qualquer predador, adaptando-se bem ao novo ambiente descoberto, foi possível que desenvolvessem ainda mais, daí a razão pela qual atingiram tamanhos gigantescos, cujo casco pode chegar a mais de um metro e noventa centímetros de extensão e pesar mais de duzentos quilos!
Voltando à aula de botânica: todos os cactos da ilha possuem flor amarela, já que esta cor é a preferida pelos agentes polinizadores locais. 
Galápagos é o único lugar do mundo onde há cactos arbóreos, ou seja, cactos com aparência de árvore, já que possuem uma espécie de tronco comprido que lhe proporcionam uma característica toda especial. Esta espécie de tronco, contudo, não é de madeira como das árvores, mas exclusivamente de seiva, o que me fez relembrar os elefantinhos da África do Sul, que deveriam se esbanjar se alimentando deste manjar dos deuses.
Na época da seca, as outras plantas perdem suas folhas como estratégia para evitar a perda de água, pois reduzem o consumo da seiva.
Após a aula de botânica, fomos para uma sala na qual havia dois murais, um indicando as espécies de tartarugas gigantes de cada ilha de Galápagos e o outro indicando os animais introduzidos pelo homem e quais destas espécies já se conseguiu eliminar, dado o dano causado à flora e fauna nativa.
Antes da “descoberta” de Galápagos, havia mais de duzentas mil tartarugas gigantes, indivíduos estes que foram reduzidos a menos de três mil, existindo, na atualidade,  aproximadamente quinze mil, devido ao serviço de proteção.
Os primeiros navegadores que chegaram à ilha, logo perceberam o quanto as tartarugas poderiam ser úteis como alimentos, pois estes animais sobrevivem mais de seis meses sem alimentos. Desta forma, poderiam ser cruelmente “armazenadas” vivas durante todo este período, durante o qual a carne estaria naturalmente fresca. E encontraram, ainda, uma ótima forma para que não fossem disturbados pelas tortugas: a colocavam de cabeça para baixo, com o casco no chão! Quanta maldade! Se fizessem isso atualmente, provavelmente seriam detidos por crime contra a “humanidade”.
As espécies de tartarugas se diferenciam entre si em razão de múltiplos fatores, entre eles a morfologia do casco e o tamanho do pescoço e das patas. Nas ilhas mais secas, em que há mas escassez de alimentos, as tartarugas desenvolveram um pescoço mais comprido, para obterem seus alimentos de plantas mais altas.
No entanto, há uma diferença básica entre macho e fêmea, essencial à manutenção da espécie e sobre a qual eu nunca havia pensado antes: o macho possui a parte inferior do casco côncava, permitindo, assim, que haja um encaixe perfeito com seu par feminino. E estas, por sua vez, são “fáceis”, sem criar problemas para a cópula, mas desde que estejam na época da reprodução, caso contrário utilizam o singelo artifício de baixarem seu casco, protegendo assim sua área “nobre”, a fim de impedir que o macho a force a alguma atividade não desejada, com seu rabinho (isso mesmo, tartarugas também possuem rabo e é este o local em que se situa o órgão sexual masculino, bem guardadinho).
Quando as primeiras embarcações vieram para cá, trouxeram consigo, voluntária ou involuntariamente, diversas espécies de animais que acarretaram profundos danos ao equilíbrio ecológico, tais como cães, gatos, porcos, ratos, pombos e, a maior praga entre todos, as cabras.
Estas últimas competem ferrenhamente com as tortugas, já que destroem as plantas que lhes servem de alimento. Por sorte, já conseguiu exterminar estas pragas em quase todas as ilhas de Galápagos, exceto em Isabela, onde ainda existem exemplares desta espécie.
Embora outros animais também tenham sido eliminados, como os pombos, que nada mais são que ratos de asas, ainda há diversos outros existentes na ilha que causam risco às tartarugas, por se alimentarem de seus ovos ou de seus filhotinhos, tais como gatos e porcos.
Em seguida, visitamos o “berçário” das tortugas e encontramos várias delas sendo tratadas de forma “desumana”: não recebem nomes próprios, mas apenas uma numeração no casco, como nos presídios... tadinhas! E, além do mais, são retiradas do ninho da mãe assim que são encontradas ainda nos ovos, para serem “chocadas” artificialmente. Como se não bastasse, os maldosos humanos ainda determinam o sexo do bichinho - se a temperatura for de 28 graus nascem meninos e de 29,5 graus nascem meninas. Na hora, não tive a presença de espírito de perguntar qual seria o sexo de um filhote que ficasse encubado a uma temperatura de 28,5 ou 29 graus...
Há que ter o máximo de cuidado com a posição dos ovos, já que se for colocado em uma posição diferente daquela encontrada no ninho, há risco de causar graves danos ao feto.
Mesmo após o nascimento, as tartaruguinhas órfãos permanecem seus três primeiros anos em cativeiro, já que até esta idade têm a carapaça relativamente frágil, o que facilita o ataque dos predadores introduzidos pelo homem. Apenas após os três anos completos e que são “re”introduzidas no seu habitat natural.
Após visitar os “projetinhos” de tartarugas, fomos encontrar o famoso George (antes sequer sabíamos da sua existência, mas logo percebemos que todos o conhecem, havendo, inclusive, biografias inteiras dedicadas a sua (longa) vida.
George é uma tortuga proveniente da Isla xxxxxxxxx
, sendo o único da sua espécie encontrado no local. Os pesquisadores o trouxeram para Santa Cruz a fim de buscar outro exemplar da sua espécie do sexo oposto, mas a busca se mostrou infrutífera. Embora tenham oferecido recompensas de até dez mil dólares, para aqueles que trouxessem a ilha exemplares “compatíveis” que haviam sido “raptados” e que hoje estariam sendo tratados como bichinhos de estimação, nenhum dos exemplares devolvidos apresentaram “compatibilidade”. O único aspecto positivo foi que acabaram “repatriando” várias tartarugas que haviam sido levadas ilegalmente da ilha no passado.
Recentemente acabaram encontrando uma tartarugas de tipo híbrido, possivelmente de ancestral comum ao George, e lhe “presentearam” com duas fêmeas. Embora o George tenha cumprido sua função, por algum motivo desconhecido os ovos não foram fecundados (talvez ausência de compatibilidade de espécies...). No entanto, ele não foi punido com o isolamento, mas, ao contrário, continua sendo beneficiado com a companhia de duas tortugas fêmeas mais jovens, talvez na esperança de que a próxima cópula seja mais produtiva. De qualquer forma, ainda que George possa manter a alcunha de “solitário” por ser o último indivíduo desta espécie, provavelmente passará o resto de seus dias muito bem acompanhado...
Em seguida, visitamos uma espécie de minizoo (o próprio George é mantido em cativeiro) onde havia outras tortugas que não poderiam ser liberadas em seu habitat natural, por terem perdido a habilidade de se alimentarem por si mesmas, já que acabaram sendo “domesticadas” pelos seus antigos “senhores”. 
Tivemos a oportunidade única também de vermos as famosas iguanas amareladas, coloração esta que fica ainda mais intensa quando chega a época da cópula, pois os machos utilizam este “truque” para atrair a atenção das fêmeas! E nós pensamos que apenas os seres humanos seriam vaidosos...
Mas a pestinha que prevaleceu mesmo neste “minizoo” foram mesmo as mosquitas, que estavam indóceis ante a existência de tanto “sangue novo”. Não poupavam nem nossos rostos, que foram inclementemente picados. Assim que saímos do instituto (ou melhor, fomos expulsas pelas mosquitas), fomos direto a farmácia comprarmos um repelente, sem sequer perguntarmos o preço...
Já devidamente protegidas, aproveitamos para admirar o descanso dos pelicanos, já que estas aves povoam um “minipier” central na cidade, enfeitando e trazendo mais vida ainda ao vilarejo. O mais engraçado é a forma como dormem, pois, de uma forma absolutamente desconfortável para nossos padrões médios, enfiam o pescoço entre as penas de suas próprias costas e assim repousam durante horas a fio...
Inspiradas pelos pelicanos, fomos ao quarto do hotel tirar uma soneca até a hora do jantar. Contudo, ao acordarmos, nos demos conta, abismadas, de que já chegara a hora do café da manhã...
08.03.11
Acordamos impressionantemente bem descansadas (!) e, depois do café da manhã, fomos informadas sobre uma pequena alteração do programa, pois iríamos primeiro a Playa Carrapateros para, a tarde, visitarmos a isla de los lobos marinos.
Esta praia fica a uma distância de uns quarenta minutos de carro de Porto Ayora (vilarejo principal que lembra um pouco Búzios, de tão sofisticados para os padrões locais). Seguimos uma trilha pavimentada de uns dez minutos até chegarmos à maravilhosa praia (não esperava encontrar praias de areia branca por aqui, pois achava que só existia lavas vulcânicas...). 
Durante a trilha, nossa guia prosseguiu em sua infatigável (me lembrei agora, que, por coincidência, um dos nomes alternativos de Santa Cruz é exatamente “infatigável”) explicação sobre a vegetação nativa e endêmica, e a próxima “vítima” de sua explicação seria o manzanillo, árvore extremamente venenosa que produz um fruto cujo aroma é bem próximo ao da maçã (daí o nome), mas cuja seiva ou fruto, ainda que em pequena quantidade, pode ser fatal para um ser humano. No entanto, trata-se de um dos pratos principais das tartarugas (talvez só as que não foram envenenadas sobreviveram à seleção natural), que as ingerem para fazerem uma espécie de limpeza estomacal, tal como os gatos de muita pelagem que eventualmente precisam expelir ingerir plantas para forçar a expelir os pelos. 
Embora a guia tenha nos proibido de tocar na folha, depois viemos descobrir que só haveria risco de queimadura caso a seiva dela encostasse na nossa pele. É até compreensível, pois na praia que recebe seu nome em razão de uma imensa área de camping, as pessoas utilizam exatamente a proteção natural do manzanillo para se abrigarem, o que seria absolutamente desaconselhável caso produzisse queimaduras com o mero toque.
Apesar de termos sido quase “tragadas” pela beleza natural do mar, cuja atração gravitacional é praticamente irresistível, a guia nos orientou a seguirmos para a direita, onde há um lago possivelmente com a existência de flamingos!
Com esta “atração” mais forte ainda, não tivemos dificuldade em seguir os passos da nossa guia e, pela primeira vez na minha vida, tive a oportunidade de ver quatro destes doces bichinhos, descansando na lagoa, com apenas uma das patas no chão (a outra recolhiam para junto do seu corpo) e o pescoço torcido para apoiar a cabeça nas próprias costas. Nossa guia aficcionada em botânica, contudo, não pode explicar a razão de tamanho malabarismo para descansar... No entanto, como minha curiosidade é insaciável, consegui, por enquanto, descobrir pelo menos a razão do pescoço voltado na direção das costas: evitar que o peso do pescoço à frente cause desequilíbrio à ave.
Os flamingos possuem a cor rosa característica, porque se alimentam de algas ricas em caroteno (ou dos planctons que se alimentam destas algas), fato este que me faz lembrar da história que mamãe sempre conta de eu ter ficado abóbora de tanto comer sopa de cenoura... E na época da cópula, eles ainda liberam uma espécie de líquido concentrado desta cor, que espalham no corpo, como espécie de maquiagem, para chamar a atenção das fêmeas tentando conquistá-las para a cópula.
A Flávia nos apresentou uma tese interessantíssima sobre a cor dos flamingos: trata-se de uma reação alérgica pela ingestão dos camarões!!! Ficamos imaginando o que aconteceria se impuséssemos uma dieta apenas de vegetais aos flamingos... 
Infelizmente todos estavam descansando tranquilamente e eu tive que conter meu ímpeto selvagem de lhes jogar algo para saciar minha curiosidade de vê-los em atividade. Até porque se eu estivesse no lugar deles ficaria muito estressada com esta turistinha enxerida e não pouparia esforços para bicá-la da minha ilha!
Aqui por galápagos não há muitos pelicanos (entre as informações desencontradas dos guias - de sessenta a cem indivíduos - , chegamos a uma média de uns oitenta) e não se sabe sequer onde põem seus “ovitos”.
Depois fomos em direção à praia, onde fomos recepcionadas por seu mais ilustre anfitrião: a iguana marinha. Aproveitei para tirar diversas fotos, além de fazer vários filminhos deste bicho cuja evolução parece ter sido estancada na época pré-história, paralelamente à extinção dos dinossauros.
Como o calor estava intenso, acabei tendo que abandonar a minha mais nova amiguinha para dar um merecido mergulho no mar. Não sem antes aproveitar para tirar foto de outra iguana que se “escondia” camuflada em uma rocha logo na beirinha do mar. 
Logo descobri que é importante ter cautela onde se pisa, pois há várias extremidades pontiagudas de lavas vulcânicas que podem nos machucar se não estivermos com o calçado adequado (como era, obviamente, o nosso caso, já que esquecemos não apenas nosso snorkel recém adquirido, como também os nossos “fedorentos”, nome de batismo de uns sapatos de borracha que compramos no Tahiti, os quais fazem jus ao nome caso guardados molhados).
Ao nos aproximarmos da lateral esquerda da praia, onde há uma espécie de lagoa, nos supreendemos ao vermos uma iguana nadando! Talvez seja a única oportunidade de presenciar este fenômeno, já que as marinhas não existem em outro lugar no mundo, embora suas terrestres tenham provavelmente “desembarcado” na ilha flutuando sobre plantas, segundo as teorias mais confiáveis.
Aproveitei para fazer um passeio sobre as lavas vulcânicas e o mais interessante que pude encontrar foram uns siris (ou seriam caranguejos?) de carapaça vermelha. O mais engraçado foi que em relação a um deles fui me aproximando o mais devagar possível, para poder fotografá-lo bem de pertinho e acabei percebendo que se tratava apenas de uma carapaça abandonada.
Estes animais são considerados espécies de “urubus” do mar, pois se alimentam de restos mortais de outros animais, além de praticarem o “canibalismo”, já que se alimentam   não apenas da mesma espécie! 
Aproveitei o restinho do tempo para retornar à lagoa a fim de tentar ver se os preguiçosos flamingos haviam acordado e tive a sorte de encontrá-lo em uma posição excelente para ser fotografado, com aquela curvatura típica em “S” de seu comprido pescoço.
Retornamos ao hotel com um horário mais extenso para o almoço (o próximo tour apenas saíria às 14:30h), o que possibilitou que “enfiássemos o pé na jaca”: comemos uma parrilhada que estava uma delícia! Chegamos obviamente pesadas no hotel e logo fomos surpreendidas com uma antecipação de trinta minutos! O guia já estava a nossa espera explicando que este sempre foi o horário do tour, sem entender que nossa insatisfação foi com o problema sobre a informação inadequada.
Ao percebemos que o guia era meio louco, desistimos de explicar o problema e fomos curtir o nosso “tour da baía”. No entanto, para nossa desagradável surpresa, o “tour da baía” seria realizado majoritariamente a pé e teríamos, portanto, que carregar todas as nossas tralhas, inclusive pé de pato e máscara até nosso destino final, pois só pegaríamos o “iate” no final do passeio. Após expressarmos nosso descontentamento, o guia resolveu levar nossos pés de pato (nada mais justo, pois não tínhamos culpa em relação a alteração da ordem dos passeios, já que inicialmente o passeio de barco seria o primeiro) e fomos caminhando até uma pocilga de água salobra (não era doce nem salgada), lotada de turistas, cujo principal atrativo era saltar de uma altura de uns dez metros, atrativo este que não me atraiu nem um pouco, principalmente ao imaginar as condições hospitalares da ilha.
Dizem que há peixes também, mas vi muito pouco desta espécie, já que se assustam com a presença de um batalhão de pessoas. Tentei imaginar esta fenda com sol, pois já estava tarde, e com menos turistas, o que certamente contribuiria para se tornar em um lugar muito mais agradável.
Pelo menos o que mais temíamos foi o menos desagradável: a caminhada até lá não dura mais que uns míseros vinte minutos e, embora o chão seja pedregoso (o caminho é de lavas vulcânicas, como tudo na ilha), não há nenhum obstáculo absurdo a ser vencido se comparado ao que tivemos que superar em uma ilhazinha próxima a Knysna (Roberg Island), na África do Sul.
Para completar, descobrimos que nosso excelente guia esqueceu (!) dois turistas que o aguardavam no restaurante... E tivemos que ficar ainda mais tempo no local conhecido como “Las Grietas” (o tal poção ao qual fiz referência antes), até que os turistas abandonados pudessem tomar seu banho de oleosidade de peles alheias.
A expectativa para encontrar nosso aguardado “iate” apenas aumentava, pois, para termos acesso à outra ilha onde visitaríamos a playa de los perros, pegamos outro taxi boat em uma trainerazinha que demorou horas para chegar.
Como tudo por aqui, foi necessário caminhar uns quinze minutos até chegarmos à referida praia, cujo principal atrativo não poderia ser outro senão dúzias de iguanas marinhas, uma em cima da outra, na tentativa de manter a temperatura corporal.
Além das iguanas, tinham inúmeros caranguejos de carapaça vermelha enfeitando as rochas negras.
Mas o visitante que mais nos surpreendeu foi um leão marinho descansando, sozinho, jogado na areia da praia, pegando seu solzinho. Chegamos relativamente próximo dele para tirarmos foto, mas ele sequer se incomodou com a nossa presença. Ele só não gostou muito quando resolvi parar em uma posição na frente do seu sol: aí ele levantou a cabecinha meio aborrecido e logo me dei conta de que estava sendo absolutamente inconveniente e me retirei antes de tomar uma mordida.
De bem longe foi possível ver os tais pássaros de patas azuis. Embora eu tenha tirado milhares de fotos no zoom máximo, só consegui ver a cor de suas patas posteriormente, aproximando ainda mais a foto com o zoom digital do visor. De qualquer forma, já posso dizer que vi o pássaro de patas azuis, embora não tenha visto suas patas propriamente ditas.
No retorno, fomos ao local onde teoricamente poderíamos ver raias e tubarões de barbatanas brancas, mas, como já esperávamos, não encontramos nenhum exemplar de sua espécie.
A visibilidade da água do mar estava péssima, o que dificultou até ver simples peixinhos durante a prática de snorkel. Para completar, o mar estava agitadíssimo, sendo até arriscado ir para determinados lugares menos profundos onde as pontiagudas lavas vulcânicas poderiam causar sérios danos. Mas como o guia era meio louco mesmo, não estava se importando muito com a nossa integridade física. Por sorte eu sou uma relativamente boa nadadora.
Teríamos apenas cinco minutos para visitar o último lugar no tal “iate” (que não era mais que uma mera trainera de chão de vidro), que seria o mais interessante do tour: a isla de los lobos. Embora houvesse inúmeros leões marinhos na ilha, não nos foi esclarecida a razão pela qual não pudemos nadar com eles, mas provavelmente porque o mar estava violento. Mas, mesmo de longe, não é difícil identificar o macho “dono” do território e de seu harém de fêmeas, já que, além de ser relativamente maior que os demais, ainda adora ficar produzindo grunhidos guturais, para lembrar potenciais invasores que aquele “pedaço” lhe pertence.
Por fim, abriu-se uma pequena parte no chão do referido barco, que estava encharcado e, depois de o auxiliar do capitão passar mais de uns dez minutos tentando enxugar a água do fundo do barco, nos surpreendemos com a absoluta ausência de espécies marinhas a serem vislumbradas pelo tal chão de vidro (parecia, na verdade, que o barco sequer tinha fundos, tamanha era a quantidade de água sob nossos pés!).
Ao retornarmos deste decepcionante tour, o guia teve a coragem de pedir “propina” para o  capitão da trainera e de nos fornecer um papel para que fosse preenchido sobre a nossa apreciação sobre o tour. Obviamente que eu não poupei adjetivos para (des)qualificar aquele tour que só não foi pior por falta de tempo disponível.
Para evitar que dormíssemos novamente, resolvemos reservar uma mesa para o jantar (trata-se de uma boa técnica de auto-regulação) e aproveitamos o confortável restaurante  Il Giardino para degustarmos um pró seco. É bem verdade que, tecnicamente, não havia um pró seco, mas apenas um último Chandon démi-sec, bastante bebível para a ocasião.
Chegamos no hotel quase trôpegas, pois já havíamos desacostumado de beber uma garrafa inteira de vinho, já que há muito tempo o calor não nos dá um descanso.
08.03.11
Hoje teríamos um transfer marítimo para a Isla de San Cristóban. Como o transfer sairia apenas às duas da tarde, aproveitamos a manhã para visitarmos a aclamada “tortuga bay” - trata-se de uma praia de extensa areia branca que se assemelha a praia da Barra da Tijuca.
Só que para chegar nela, temos que fazer uma trilha de quase três quilômetros! Por sorte, a trilha é toda pavimentada e atravessamos todo o percurso sem maiores dificuldades, até porque o sol ainda estava fraco. 
Ao chegarmos na praia principal, cujo mergulho é desaconselhável em virtude da existência de correntezas, ficamos chocadas com a mansidão do mar: algo como a praia do forte de Cabo Frio em dias mais tranquilos. Chega a ser engraçado o aviso com o desenho de uma pessoa se afogando! Se Itacoatiara fosse aqui, provavelmente haveria um cordão de isolamento a uma distância de duzentos metros do mar...
Depois de brincarmos com as nossas anfitriãs prediletas. Tinha uma iguana, inclusive, que era a maior que já tinhamos visto e estava acompanhada de seus filhotinhos. Chego a ter peninha dela, tamanho o temor que tem dos seres humanos, não obstante toda aquela feiura que assusta até o menos medroso dos seres...
Quando chegamos a famosa tortuga bay, que decepção! Não passava de uma poça no meio de um mangue, que as pessoas acham o maior barato porque podem banhar-se sem risco! Me senti chegando na prainha de itacoatiara...
Apesar da decepção, o calor era tamanho que não pudemos resistir a um mergulho. Eu fui impulsionada por uma iguana que nadava tranquilamente no meio dos turistas e resolvi segui-la munida de minha máquina a prova d’água. Enquanto me aproximava devagar, ela mantinha uma velocidade e distância de segurança, mas foi eu chegar mais perto que ela resolveu dar um mergulho e desaparecer! Como é rápido este bichinho! 
Não pude ficar ali por muito tempo, pois as mutucas (moscas que picam) estavam sedentas de sal. Resolvi, então, retornar para areia, até porque ainda teríamos bastante chão durante o retorno, sob um sol inclemente.
Nos arrependemos de não termos ficado na praia deserta que o povo local entendeu por bem chamar de perigosa exclusivamente em razão de não terem aulas regulares de natação. Mas como o tempo era curto, decidimos regressar, sob a proteção das toalhas, como duas beduínas no deserto.
Chegamos a tempo no hotel (já havíamos calculado, inclusive, a possibilidade de o horário do ‘transfer’ ser alterado, de tão desorganizados que é a agência de turismo local ‘gray line’). O nosso ‘transfer’ foi nos buscar a pé, para pegarmos um táxi na rua principal (que beleza!) e, ao chegarmos no nosso ‘transfer’ marítimo tivemos a grata surpresa ao verificar que os únicos locais remanescentes significavam ‘torrar’ durante duas horas sob um sol escaldante. 
Minha forte cólica menstrual serviu, pelo menos, de subterfúgio para eu pudesse superestimá-la e ser suficientemente convincente ao alegar que estava passando mal e que não poderia viajar sob aquele sol. Havia, por sorte, um lugar remanescente a sombra, onde tratei de me acomodar, enquanto a Flávia sentou no chão sobre nossas malas, a fim de evitar as agressões dos raios ultra-violetas. Na metade da viagem minha cólica já havia melhorado (de verdade) e nós acabamos trocando de lugar, sendo que eu passei o resto da viagem deitada no chão, aproveitando o solzinho que agora já tinha chegado até as malas, embora já estivesse menos forte.
Isso tudo sem mencionar o fato de que o taxi boat estava superlotado (32 pessoas para uma capacidade máxima de 26), sem que houvesse, pelo menos, salva vidas para todos os passageiros. Quando questionei este fato ao auxiliar do capitão ele deu de ombros, sem que sequer inventasse uma justificativa plausível.
Ao chegarmos em San Cristóvan, fomos recepcionadas por dezenas de lobos marinhos, que nos aguardavam no cais do porto central da cidade! É incrível como eles ficam extremamente tranquilos na presença dos seres humanos, interagindo perfeitamente com esta espécie esquisita que somos nós.
Encontramos leões marinhos não apenas nas escadas do porto, como também no banco da pracinha e até no escorrega! Fantástico! Parece que esta ilha é povoada por esta espécie!
No entanto, o que eu mais esperava ver em San Cristóban era o tal pássaro de papo vermelho, conhecido como tijerera. Só que ao chegarmos no hotel, fomos (equivocadamente) informadas que não iríamos para nenhum local onde seria possível avistar estes pássaros e que, se quiséssemos vê-los teríamos que fazer a trilha das tijereras.
Embora estivéssemos mortas e tivéssemos combinado entre si que não faríamos absolutamente nada de cansativo mais pelo dia de hoje, não conseguimos resistir a curiosidade de fazer esta pequena trilha que também proporcionaria uma visão panorâmica da ilha.
Pegamos um táxi até o suposto início da trilha (depois descobrimos que fizemos desnecessariamente uma grande parte da trilha pelo meio do mato, por ser um suposto ‘atalho’ que pouco nos beneficiou) e, só lá para a metade que encontramos um caminho pavimentado que daria acesso às tijereras.
Depois de caminharmos aproximadamente dois quilômetros, chegamos no que seria o final da trilha, mas nada mais vimos que espécies de gaivotas negras voando sobre o mar. Ao perguntar para um guia onde poderíamos encontrar os pássaros que buscava-mos, ele nos aconselhou desviar por um caminho pelo meio do mato que iríamos ver seus filhotinhos no topo de uma árvore.
Além de não vê-los, andamos muito mais do que o necessário e tivemos vontade de matar o sujeito que nos deu aquela informação desconcertada, principalmente ao sabermos que esta trilha no meio do mato ainda estava em “construção”, ou seja, não era muito segura, principalmente sem um guia que conhecesse o local.
Todas estas informações conseguimos obter do guardinha que estava na porta do Centro de Interpretación Charles Darwin, onde seria, em tese, o início da trilha caso não tívessemos pego o referido atalho.
Mas o pior de tudo foi descobrir que o tal pássaro de papo vermelho nunca seria encontrado por nós: ele só incha aquele papo na época do acasalamento e o mês de março definitivamente não é a época mais adequada. A única coisa que me lembro foi de assistir a uma espécie de “filminho” mental, revendo todo o esforço para subir aquela trilha, em um dia que já estávamos suficientemente desgastadas pela dura caminhada da manhã e pelo “perrengue” do tranfer marítimo sob o sol. E tudo em vão, pois as aves simplesmente não querem acasalar neste período... Da próxima vez vou procurar obter informações mais precisas, antes de gastar desnecessariamente minhas parcas energias!
Para “coroar” o final do dia, começou uma pesada tempestade que causou uma certa dificuldade para encontrarmos táxis, principalmente pelo fato de serem de difícil identificação por se tratarem de caminhonetes brancas como a maioria dos carros particulares e os da polícia (por pouco não fiz sinal para a polícia!).
Conseguimos, finalmente, um táxi para o hotel e, depois de um banho nada reconfortante (a água ou era congelante ou escaldante) fomos à cidade finalmente ‘almoçar’ ou ‘jantar’, dependendo da teoria adotada, pois não tínhamos almoçado, embora já passasse das sete da noite.
O jantarzinho até foi bastante razoável, já que os equatorianos não poupam um ingrediente sem o qual os brasileiros não viveriam: o alho. Meu peixinho com alho estava uma delícia, assim como a pizza da Flávia que, por ter vindo com bastante antecedência, acabou sendo vítima de alguns ataques da minha parte...
Enquanto esperávamos o táxi, aproveitei para me divertir vendo aqueles leões marinhos todos esparramados pela areia, se ajeitando para passarem uma noite tranquila com o seu bando.
09.03.11
O primeiro lugar que iríamos visitar seria a lagoa formada por uma cratera de vulcão já extinto, conhecida como “el junco”, situada na parte alta da ilha, sendo a única de água doce permanente de todo o arquipélago de Galápagos.
Segundo a explicação visivelmente decorada do guia, o motivo pelo qual a lagoa nunca secava seria a existência de uns micro crustáceos, quase microscópicos, que se alimentavam de algas existentes na lagoa, evitando que elas consumissem a água potável.
Há algum tempo, foram introduzidas tilápias neste lago, o que demandou um estudo de impacto ambiental que levou três anos para ser concluído para se descobrir uma substância que pudesse eliminar as tilápias sem destruir o ecossistema nativo, já que estes peixes são considerados pragas difíceis de serem exterminadas que estavam colocando em risco a própria subsistência do sistema.
Aos poucos foram aparecendo as fragatas (a Flávia já havia visto uma de papo vermelho, embora murcho, mas eu tinha me demorado para subir e acabei perdendo esta oportunidade). No entanto, só apareciam fêmeas, que são pretas e brancas, o que aumentou ainda minha ansiedade por ver a fragata de papo vermelho, ainda que murcho. De repente, vi se aproximar uma diferente que estava com uma espécie de saco murcho sob o bico! Era o tal macho, que da próxima vez que viermos a Galápagos veremos de papo inflado.
Aproveitei para fotografar as fragatas em todas as posições de vôo possíveis, a ponto de ser possível fazer um profundo estudo sobre a mecânica do movimento das asas destes pássaros. A situação piorou ainda mais quando eu descobri a função da máquina que permite tirar várias fotos seguidas, sem interrupção. Resultado: cento e cinquenta fotos das fantásticas fragatas - o trabalho seguinte seria o de selecioná-las...
As fragatas são consideradas ‘hijackers’, pois costumam ‘raptar’ outros pássaros para lhe roubar a comida, cuja tática preferida é puxar-lhe o rabo para força-lo a soltar sua presa.
Além do vôo das fragatas, não havia nada mais realmente interessante naquele buraco cheio de água, fora o fato de ser o único lago permanente de Galápagos. À esquerda, no entanto, tinha uma vista magnífica de uma ilha que fica a nordeste do leão dormindo, outra ilha igualmente interessante que havíamos visto no dia anterior na trilha das tijereras. 
No entanto, nossos passeios já “empacotados” não incluíam estes lugares magníficos, mas certamente na próxima viagem teremos mais cuidado para analisar as opções existentes em cada local. Na realidade, chegamos a conclusão que o melhor a se fazer é mesmo contratar os passeios no local de destino, onde podemos obter melhores informações sobre as alternativas existentes.
O próximo lugar a ser visitado seria a gualapagueira (apenas ao chegar ao local me toquei que se tratava de mais um lugar para se visitar tartarugas, pois, embora eu ainda não tenha explicado isso, o nome “galápagos” significa exatamente tartaruga em espanhol...
Chegando a tal gualapagueira, ouvimos a mesma historinha de sempre, desde a aula de botânica sobre o ‘manzanillo’, até todos os aspectos sobre as tortugas, desde a sua exterminação pelos primeiros navegantes, até sua atual proteção, em razão da introdução de animais que devoram seus ovinhos e filhotes pequenos.
O guia nos explicou que a cor do casco das tartarugas de galápagos é mais escura como forma de melhor absorção da energia solar (como todos nós que usamos roupa preta no calor de quarenta graus do Rio de Janeiro estamos cansados de saber...). No entanto, não esclareceu porque as tartarugas dos demais habitats não desenvolveram esta peculiaridade, mas eu tampouco estava estimulada a perguntar, tamanha era sua má vontade para explicar as coisas.
Foi possível perceber que as tartarugas estavam se esforçando para levantar o máximo possível seu pescoço, ao mesmo tempo que fazia uma espécie de careta para seu potencial rival. Esta é uma forma típica das tartarugas macho se exibirem para a fêmea, já que esta, em regra, vai escolher como potencial parceiro sexual para transmissão de seus genes aquele que possuir o pescoço mais comprido, já que se trata de uma nítida vantagem evolutiva, principalmente em regiões mais secas, como a Isla Española, onde as tartarugas precisaram desenvolver esta habilidade, para obter alimentos de folhas situados em locais mais elevados.
Assim como seus colegas da África do Sul, tanto as tortugas quanto as iguanas desenvolveram uma espécie de simbiose com os pássaros, os quais se alimentam do resto de seus alimentos e também catam os insetos e as impuresas de seus ouvidos! A natureza é muito interessante mesmo!
Como as tartarugas da galapagueira são de cativeiro, elas são alimentadas apenas três vezes por semana, pois percebeu-se que seu sistema digestivo era bastante lento (como todo o resto...) e que não estava tendo tempo suficiente para digerir todo aquele alimento ingerido diariamente.
Antes de visitarmos o berçário das tartarugas, tivemos a oportunidade única de ver um ovo eclodindo! Já estava parcialmente quebrado e naquele dia ou no máximo no dia seguinte seria retirado da encubadeira e colocado em um local isolado, por onde permaneceria durante um mês sem alimento. Isto é possível porque o próprio ovo contém gordura necessária para que o neonato sobreviva durante este período apenas se alimentando do produto embrionário.
O terceiro local a ser visitado seria (acreditem!) a casa do Tarsan. Quando o guia informou isso, acreditei sinceramente que era algum tipo de brincadeira e que iriamos visitar algum lugar interessante. Quando chegamos em um local onde havia uma ponte suspensa até uma casinha na árvore, fui animada até dentro dela achando, que ali encontraria algum animal em extinção, ou algo ainda mais interessante, mas não havia absolutamente mais nada que uma cama em uma espécie de mesanino, a cozinha, um frigobar repleto de bebidas e o guia, sentado em uma das cadeira, nos olhando com cara de idiota. Cheguei a esperar uns cinco minutos para ver se daria início a alguma história realmente comovente, ou algo do gênero, mas ele simplesmente informou que, se quiséssemos, poderíamos alugar aquela casinha para passar uns dez dias por ali, na casa construída sobre o ceibo centenário.
A árvore era, de fato, interessante, mas nada que justificasse aquele ‘stop’ por ali, principalmente porque nosso passeio visava principalmente visitar uma loberia.
Como teríamos que permanecer no local por uma meia hora, aproveitamos para tomar uma cervejinha local, a Pilsner, que não tem nada de especial.
Depois do almoço, fomos ao Centro de Interpretación Charles Darwin, onde (teoricamente) o guia nos explicaria a formação de Galápagos e toda sua história. No entanto, estávamos ansiosas para ir a loberia, principalmente porque sabíamos que quanto mais tempo permanecêssemos neste local, menos tempo teríamos disponível com os lobinhos, ou melhor leões marinhos (em castelhano leão marinho é conhecido como ‘lobos marinos’).
Com ‘aquela’ boa vontade, o guia começou explicando que Galápagos foi fruto de uma erupção vulcânica há aproximadamente três milhões de anos (ou seriam cinco? será que faria realmente diferença?) e, obviamente, no início era tudo absolutamente inóspito, até que foram aparecendo as primeiras formas de vida.
Antes mesmo desta parte da explicação eu resolvi me afastar do guia para não morrer de tédio, pois ele tinha um incrível dom de fazer qualquer um, por mais curioso que seja, se desinteressar pelo que estava falando.
As explicações nos murais eram muito mais interessantes que aquelas que estavam sendo dadas pelo guia, então decidimos nos adiantar um pouco para nos perdermos dele.
Como todo nicho acaba sendo preenchido por seres vivos, no seu natural afã de se espalhar pelo planeta, não deve ter demorado muito para chegarem as primeiras plantas, sendo que parte das sementes foram conduzidas pelo vento e outra parte pelas aves que visitavam esporadicamente o local.
Os primeiros seres vivos terrestres foram provavelmente os lagartinhos que eles chamam de ‘lava lizard’ e que foi o primeiro com o qual me deparei já no aeroporto e que serviu de modelo para eu testar minha máquina fotográfica nova.
Tanto este, quanto as iguanas e tartarugas, provavelmente chegaram aqui conduzidos pelas correntes marítimas, boiando sobre folhas ou outros objetos. Os répteis tiveram significativa vantagem para cruzar o oceano pacífico desde a costa da américa, já que seu metabolismo facilita a manutenção de energia, podendo reduzir de forma significativa a atividade metabólica para manterem-se vivos durante dias e até meses sem se alimentar.
E, uma vez encontrado o novo habitat, no qual não haviam predadores ou estes existiam em quantidade reduzida, resolveram estabelecer residência com caráter definitivo, povoando o local com descendentes de sua espécie.
Havia um outro cartaz demonstrando todas as espécies de pássaros que descenderam de um ancestral comum, os quais serviram de exemplares para que Darwin desenvolvesse sua teoria da evolução das espécies. Como os passarinhos não tinham predadores, puderam se estabelecer de forma definitiva em cada ilha, ocupando seu respectivo nicho ecológico, e acabaram realizando uma especialização de seus bicos para facilitar a obtenção de alimentos em seus respectivos nichos.
Desta forma, alguns passarinhos desenvolveram bicos mais adaptados a obterem alimento da seiva do cactos, enquanto outros desenvolveram bicos mais finos para se alimentarem de pequenos insetos e larvas, etc. E um dos passarinhos passou a incorporar, inclusive, uma ferramenta que lhe auxilia na busca por insetos, fato este nunca registrado antes entre as aves ou outros vertebrados inferiores.
O centro de interpretação (nome este um tanto quanto curioso...) também discorre sobre a história de Galápagos, desde sua descoberta por um sujeito que vinha do Panamá e acabou tendo seu navio desviado pelas correntes marítimas em direção a Galápagos; narra a dizimação das tartarugas pelos piratas e demais navegadores para obtenção de carne fresca daquela forma que prefiro não repetir; demonstra a falta de importância que foi atribuída inicialmente ao arquipélago até se decidir incorporá-lo ao Equador. Mesmo após a incorporação, o arquipélago ficou relativamente abandonado, servindo como local para detenção de delinquentes mais perigosos, até que Charles Darwin chegou ao local e publicou, com base em suas pesquisas de campo, a obra sobre a teoria da evolução das espécies. A partir daí o arquipélago passou a atrair a atenção da comunidade científica, dada sua natureza totalmente especial, capaz de proporcionar exemplos jamais vistos em qualquer outro lugar do mundo sobre a forma de evolução de determinadas espécies diferentes de animais.
Como terminamos a visita do centro de interpretação em menos de meia hora, ficamos plantadas lá fora aguardando o lerdo do guia terminar sua explicação insípida (para não dizer nada mais grosseiro...).
Finalmente pudemos ingressar no ônibus para irmos a loberia, que era nada mais que uma praia onde poderíamos interagir com os leões marinhos (se eu soubesse que não era necessário barco para chegar ao local, já que estava esperando ir a famosa isla de los lobos, teria pego um táxi e ido por conta, livre daquele chato).
Como o mar estava com fortes ondas, foi difícil conseguir nadar com os leões marinhos. A Flávia, contudo, deu sorte de logo ao mergulhar se deparar com um bem próximo de si! Eu tive mais dificuldade de encontrar-los, já que a maioria, pelo final da tarde, já está tomando seu solzinho antes do anoitecer... Que vida boa! 
O louco do guia tentou nos levar mais para o fundo onde poderíamos ver os leões marinhos, mas não rendeu resultados, pois a visibilidade estava péssima e os bichinhos não queriam saber de se estressar com aquele mar batido.
Eu, contudo, cismei que queria mergulhar com um deles e logo que vimos um no meio do mar eu fui, de câmera na mão, nadar ao lado daquele bichinho fofo! Que surpresa não tive ao perceber que não fui bem recebida pelo meu novo anfitrião, que não foi nada gentil ao se dirigir na minha direção, aos berros, em uma clara demonstração de insatisfação que fatalmente culminaria com uma significativa agressão física. Consegui, por sorte, sair suficientemente rápido da água para que não me transformasse em sua nova presa e só então o guia veio nos esclarecer que se tratava do macho “dono do território” e que, com este, não poderíamos brincar. Que belo guia este! Depois chegamos a ler que os filhotes e fêmeas não são potencialmente perigosos, e até interagem com os humanos, enquanto é importante ter cuidado com o macho, mas que não precisaríamos nos desesperar porque certamente (?) o guia que nos acompanhasse prestaria as informações adequadas para evitar qualquer acidente...
Embora eu tenha ficado terrivelmente apavorada com o episódio que foi integralmente registrado pela câmera que estava em modo de filmagem, não pude deixar de apreciar os filhotinhos e o resto menos violento da “tribo”, tomando, contudo, o mais absoluto cuidado para não me aproximar mais do macho.
Ele, inclusive, estava visivelmente estressado, tendo tentado atacar um menininho que estava brincando na beira do mar... Cheguei a conclusão que nosso guia além de chato é totalmente incompetente!
Ah, e para completar também fiquei sabendo que foi exatamente ele quem, no dia anterior, nos havia colocado naquela furada em busca das tijereras! Eu não me lembrava dele, mas ele comentou que foi ele mesmo quem me indicou o caminho! Isso foi o suficiente para eu ter vontade de matá-lo, mas tive que segurar meu ímpeto assassino, afinal precisava dele para voltar para o hotel...
O resto da tarde transcorreu em relativa paz, com a observação dos leões marinhos descansando, brincando no mar (eles são uns palhaços, ficam dando piruetas na água, pegam onda, parecem verdadeiras crianças!) e se aquecendo entre si. Tiramos várias fotos lindas de um pelicano que descansava por ali, bem como dos surfistas que pegavam altas ondas lá no fundo do mar.
À noite jantamos em um restaurante Micônia, em frente ao malecón (por aqui eles também têm malecón, como em Havana!) e, depois de degustar meu delicioso lagostin ao molho de alho (óbvio!), fomos nos despedir dos leões marinhos de San Cristóban, pois no dia seguinte pegaríamos a avioneta bem cedo.
10.03.11
No dia anterior, fui suficientemente convincente na minha ameaça perpetrada contra a atendente: caso nós fossemos despertadas por aquele auto-falante no nosso quarto, não perdoaríamos um ser vivo com a nossa fúria.
Já estávamos, de fato, sem qualquer paciência de ficar ouvindo os recados divulgados para todos os hóspedes, sendo que nós mesmas tomamos um basta susto quando, no dia anterior pela manhã, fomos despertadas com um aviso de que o café da manhã já estaria disponível!
Como o “inteligentíssimo” sistema instalado impede que os avisos sonoros direcionem-se exclusivamente aos hóspedes para os quais a mensagem se destina, a atendente havia me informado que não seria possível desativar aquela instalada no nosso quarto. 
Foi então que sugeri a “brilhante” idéia de apenas acordar os hóspedes que fizerem esta solicitação, já que não estamos em um internato, nem muito menos em um base militar. 
Não sei se ela concordou com a minha sugestão, mas se algum hóspede foi acordado não foi pelo tal auto-falante, que não transmitiu qualquer outra mensagem após a minha reclamação pouco afável.
No entanto, acabamos sendo acordadas de uma forma muito menos agradável: enquanto ainda estávamos nos procedimentos de “espreguiçagem”, nos deparamos com um inseto que não era um dos milhares de besouros que povoavam o hotel, mas sim nossa arqui-inimiga barata, ou cucaracha na língua local.
Como ela entrou embaixo da cama, inviabilizando o ataque mortífero da Flávia (nesses momentos meu sistema de defesa apenas ativa o modo “fuga”), resolvemos tentar arrumar nossas coisas o mais rápido possível, o que demandaria pelo menos uns vinte minutos, dada a desorganização absolutamente natural resultante de dois dias de hospedagem.
No entanto, para meu desespero e de todas as outras pessoas que ainda tentassem dormir no hotel, a super barata (devia ter uns dez centímetros) veio exatamente na direção do meu pé e não me “atacou” por pouco, já que quase voei para fora do quarto, aos berros, como se o som incrivelmente estridente do meu grito tivesse um impacto suficiente para assustá-la.
A retardada da mulher da recepção (a tal que falou que não havia possibilidade de desligar a sirene) ficou rindo da minha reação, achando que todo o escândalo tivesse sido causado por um “erro de julgamento” sobre a espécie de inseto, pois acreditava que seria simplesmente um besouro um pouquinho maior. Apenas ao chegar no quarto, em verdadeiro ‘slow motion’ é que a atendente se deu conta do tamanho do seu problema: teria que enfrentar realmente uma cucaracha, embora visivelmente tivesse igualmente pânico deste animal. Para a sorte dela a barata entrou novamente embaixo da cama e ela teve a audácia de dizer que o problema já teria sido resolvido! 
Eu, no entanto, como aprendi durante estes momentos de desespero, afirmei que só retornaria ao quarto mediante a apresentação do cadáver, o que fez com que a minha heroína Flávia lograsse exterminá-la, após o vacilo fatal da vilã, ao tentar sair do seu esconderijo para praticar mais maldades. 
Passado o susto, fomos tomar nosso café, ainda mais assustadas com os besouros, já que, entre eles, poderia haver outra cucaracha desfarçada. Como se não fosse suficiente o mal humor causado por esta forma nada simpática de “bom dia”, ainda reolveram colocar uma linguiça sobre o ovo mexido do café da manhã! Eca! 
E, por fim, o transfer resolveu atrasar uma meia hora, o que me fez entrar em desespero, com medo de ter de passar mais um dia naquele hotel mais assustador que um filme de Hitchcock, mas felizmente conseguimos embarcar a tempo.
Ao chegarmos no aeroporto, logo constatamos que viajaríamos praticamente em um ultra-leve: a avioneta tinha espaço para apenas oito passageiros! Sentamos logo atrás do piloto e um dos passageiros teve que se acomodar, inclusive, ao lado deste! Para nosso azar, o piloto estava se engraçando para a “co-pilota” e resolveu mostrar todos os comandos, como se fossemos verdadeiras cobaias, girando o avião para um lado e para outro...
Não havia ar condicionado, e foi possível perceber o suor escorrendo pelas bochechas rechonchudas do piloto. Só não sabia se era realmente de calor ou, na verdade, de tensão, embora ele parecesse estar até à vontade demais.
Fiquei realmente tensa durante toda a viagem, além de extremamente irritada com o barulho das hélices, que se encontravam bem na nossa direção. O tempo de duração estimado da viagem seria de vinte e cinco minutos, mas parecia realmente uma eternidade. 
Enquanto fixava minha visão naquele imenso oceano, me perguntava (não tive coragem de externar esta dúvida, pelo medo do que escutaria em resposta) se já havia acontecido algum acidente com avionetas por ali. Igualmente me perguntava se eventual acidente teria tido repercussão internacional, chegando facilmente à conclusão de que não, não teria qualquer repercussão um acidente com tão poucas vítimas. Embora me esforçasse para mudar o rumo da direção que meu pensamento insistia em tomar, não conseguia resistir a ele, sendo angustiante a sensação de que poderíamos morrer sem que ninguém tomasse conhecimento do ocorrido...
Quando finalmente avistamos a ilha Isabela foi aquela felicidade e muita reza para que o pouso ocorresse da maior forma possível.
Ao sair da avioneta, eu, que raramente fico enjoada, tive vontade de devolver à natureza, pelo caminho mais curto possível, todo o café da manhã ingerido, mas consegui me conter, respirando fundo para passar o enjôo.
Nossa receptiva foi super simpática e, embora estivéssemos esperando um hotel da mais péssima qualidade, em razão da experiência anterior, acabamos nos surpreendendo com a qualidade do hotel de Isabela. O hotel, além de super aconchegante, não tinha um percevejo sequer, nem muito menos aparência de que poderia aparecer qualquer barata. 
Embora a Flávia não tenha gostado muito da idéia de sermos instaladas no segundo andar e haver, portanto, um lance de escada, depois chegamos à conclusão de que esta é a melhor forma de estarmos mais distanciadas possíveis dos terríveis insetos que povoam locais pouco civilizados.
O banho era um pouco menos pior que no hotel anterior, pois a água, embora estivesse mais próxima do frio que do quente, não flutuava entre os dois extremos gelada-fervente como no hotel Arena Blanca, em que o chuveiro parecia sofrer da síndrome da bipolaridade.
Aproveitamos o tempo que tínhamos até o passeio da tarde para dar um passeio pela cidade, ou melhor, pelo vilarejo de terra batida, já que mesmo o centro da cidade é extremamente simples.
Para evitar maiores riscos, resolvemos almoçar no restaurante mais cheio, onde a maior dificuldade que tivemos foi de encontrar uma bebida gelada, pois não havia pedras de gelo disponíveis no restaurante. 
O peixe ao molho de alho (para variar) estava bem palatável e veio acompanhado de batatas fritas, como a maioria dos pratos por aqui.
Embora o hotel não ficasse a mais de dez minutos da pracinha principal, resolvemos voltar de taxi, para pouparmos energia para o passeio da tarde.
O guia, Júlio, era muito simpático, e logo nos explicou tudo que faríamos no passeio. Entramos em um barquinho de pescador e assim que nos afastamos um pouco do cais, nos deparamos com alguns pinguins se aquecendo com as asas abertas, sobre as rochas vulcânicas, e outros nadando como patos.
Ficamos impressionadas com a existência de pinguins por aqui, já que se trata de um habitat bastente quente para esta espécie de aves. No entanto, depois tomamos conhecimento de que eles vieram parar aqui por acidente, arrastados pela corrente fria de Humbolt, mas acabaram se adaptando ao calor da localidade ao perderem uma quantidade significativa de plumagem que serviam para lhes proteger do frio inclemente dos pólos.
Em seguida, fomos fazer snorkel em um local que, em tese, encontraríamos tartarugas marinhas e tubarões de barbatana branca.
Embora o mar tivesse com péssima visibilidade (segundo o guia, o problema ocorre normalmente quando se trata de lua cheia e minguante, já que nos dois extremos a lua exerceria forte atração gravitacional, causando significativas alterações nas marés), conseguimos ver uma tartaruga marinha passar pertinho da gente! Logo depois passou outra, e depois outra e, por fim, uma tartaruga resolveu pairar ao nosso lado!
Fiquei um tempo filmando a tartaruga, até que ela se cansasse de ceder sua imagem de forma não remunerada e resolvesse ir embora. Eu, contudo, na minha insistência fui na sua direção, até ser advertida pelo guia que não continuasse lhe seguindo, pois assim ela não retornaria.
De fato, foi a última vez que a vimos, mas valeu a experiência, pois continuo com a convicção de que nado mais devagar que uma tartaruga...
Como o mar estava bravo, a Flávia acabou ficando enjoada de tanto ser levada pela maré e acabou resolvendo voltar para o barco, a fim de evitar compartir com os peixes o produto do seu almoço.
Foi uma pena, pois, logo depois o guia me levou em um local onde garantira que eu veria um tubarão. Ele foi procurando debaixo de umas mini cavernas de rochas e, finalmente, encontrou um exemplar da espécie em uma caverna escura.
Eu não estava acreditando, mas ele foi louco o suficiente para enfiar seu braço no local, a fim de espantar o tubarão, que saiu tranquilamente de seu esconderijo para nadar até um outro onde não houvesse humanos abusados.
Aproveitei para segui-lo de pertinho, enquanto o filmava. Estes bichinhos são muito bobos mesmo! Se eu fosse ele viraria imediatamente e mostraria os dentes para mim, atitude esta que seria suficiente para me fazer voltar rapidinho para o barco, ainda que ele não rosnasse...
Depois do snorkel, fomos visitar a ilha batizada com o nome do tubarão recém visualizado: ilha das tintoreras (tubarão de barbatana branca). Esta ilha é a preferida das iguanas marinhas para depositar os seus ovinhos. Vimos iguanas de todos os tamanhos, desde filhotinhos até umas enormes, que provavelmente estariam “grávidas”. 
Mas o mais interessante foi quando chegamos em um local com centenas delas, todas em plena atividade, brigando uma com as outras. Embora inicialmente achássemos que se tratava de machos lutando pelo seu território, logo o guia nos esclareceu que eram, na realidade, fêmeas, brigando entre si para evitar que outras se apoderassem de seus ninhos.
E a briga delas é feia mesmo! A cena mais engraçada, dentre todas, foi a de duas iguanas  se empurrando com a cabeça, como em uma espécie de “queda de braço” com as cabeças em que vence quem conseguir empurrar mais a adversária!
A ilha é composta exclusivamente por lavas vulcânicas, o que lhe proporciona um relevo único e perfeito para as iguanas se camuflarem, já que se confundem perfeitamente com as rochas.
As fragatas, contudo, não dão mole não... Ficam só rondando para atacar algum ovo mal protegido. Que maldade com as potenciais iguaninhas!
Ao sairmos da ilha, nosso guia resolveu fazer mais uma de nossas vontades! Como ele é bonzinho! Nos levou para próximo daqueles pássaros de patas azuis! E agora além de ver apenas os pássaros, conseguimos ver suas patinhas azuis também! Que gracinha!
Como São Pedro estava anunciando chuva, achamos mais cauteloso retornar ao cais, mas o anúncio não passava de mera ameaça. Enquanto a Flávia se recuperava dos efeitos do dramin, fui procurar uma lagoa onde os flamingos costumam repousar. Qual não foi minha decepção ao não encontrar nenhum exemplar da espécie na tal lagoa. No entanto, após modificar um pouco meu ângulo de visão, acabei encontrando um único flamingo, isolado naquela imensidão, com um ar meio blasé. 
Depois fui caminhando em direção ao mar para assistir à dança dos pássaros durante o por-do-sol e, finalmente, retornei ao hotel, encontrando Flávia com um bico absolutamente justificável, por ter sido acordada por um receptivo inconveniente que queria prestar esclarecimentos sobre o vôo de partida.
À noite, jantamos acompanhadas de um jovem casal de equatorianos muito simpáticos, que nos aconselhou a alterar o passeio do dia seguinte para irmos a “los tuneles”, já que a visibilidade do mar no local estava excelente e há dez vezes mais riqueza de vida marinha que nas redondezas das tintoneras, segundo informações prestadas por um expert local.
11.03.2011
Enquanto pensávamos se realmente valeria a pena fazer a alteração de passeios e o quão desgastante qualquer pretensão de alteração poderia representar, ouvimos um toque suave na porta, meia hora antes do horário agendado para a trilha dos vulcões.
Era o nosso simpático guia Júlio, dizendo que tinha uns esclarecimentos para nos dar. Solicitei que aguardasse, pois já estaríamos descendo, mas ele disse que era “meio” urgente e que precisava falar naquele momento. Embora eu tenha ficado meio irritada com tanta pressa, acabei cedendo e permitindo que falasse logo e, foi então que ele nos disse que haveria um alerta de tsunami para as ilhas Galápagos, em razão de um forte terremoto ocorrido no Japão!
Ao ouvir a advertência, achei que fosse uma espécie de brincadeira de mal gosto, dado o adiantar da hora, e naturalmente caí na gargalhada, ante o olhar incompreensivo do guia.
Como ele não acompanhou o meu estado de espírito, resolvi perguntar se o que estava falando era realmente sério, e foi quando ele reafirmou que a previsão era de que o tsunami chegaria por volta das 17h... No entanto, nosso passeio não seria cancelado, já que a determinação presidencial seria de evacuação exatamente para as partes mais altas de cada ilha e seria este o nosso local de destino. No entanto, seria aconselhável que levássemos mais água e um casaco, pois permaneceríamos evacuadas até as 18h da tarde!
No entanto, ao chegarmos ao vulcão, os guardas florestais impediram nosso acesso à trilha, pois o governo havia determinado que todas as atrações turísticas, sejam marítimas (obviamente), sejam terrestres, fossem canceladas, a fim de garantir que todos  os funcionários estivessem a disposição do governo, para resgate de eventuais vítimas.
Nosso guia, contudo, não se conformou com a proibição, entendendo não ser razoável que não pudéssemos ir a um ponto ainda mais alto em razão do tsunami. No entanto, ele não estava entendendo que a questão não era exatamente esta, mas sim que os guardas poderiam não estar disponíveis para dar eventual atendimento emergencial a algum turista ferido caso sobreviesse algum acidente.
Retornamos, então, ao hotel para pegarmos mais roupas e passamos em uma mercearia para nos abastecermos de mantimentos. Peguei uma garrafa de dois litros de água e todos os produtos alimentícios disponíveis, desde bananas desidratadas, até biscoito de maisena e uma caixa de crunch, pois chocolate é um excelente reservatório calórico para situações de emergência (fiquei sondando quantos dias sobreviveríamos com aquelas reservas alimentares somadas às nossas reservas naturais, que são relativamente substanciais...).
Ao chegar no balcão para pagamento, me lembrei do filme 127 horas em que o protagonista acaba tendo que ingerir a própria urina e resolvi pedir para a caixa acrescentar mais uma garrafa de dois litros de água, por cautela. Não sabíamos o estrago que o tsunami poderia causar à ilha, nem muito menos quanto tempo iríamos permanecer evacuadas.
Nosso carro foi abarrotado de pessoas: além do motorista, foram três no banco do carona e cinco adultos atrás! Pelo menos estávamos tranquilas por não estar tomando o espaço de ninguém...
Embora achássemos que estávamos exagerando, as pessoas estavam levando malas enormes, além de galões de vinte litros de água, o que fazia aumentar ainda mais meu desespero ante a incerteza quanto a nosso futuro.
O camping atendia a todos os estereótipos do paraíso (campo verdejante arborizado, animado pelo canto de pássaros) embora poucos seres humanos modernos conseguissem viver tranquilamente em um local onde não há energia elétrica, sinal de celular ou internet.
Encontramos uma arvorizinha sob a sombra da qual nos instalamos, evitando que outros seres humanos se estabeleçam naquele local privilegiado. No entanto, não tardou para que começasse a chover (muito injusto isso: não temos absolutamente nada para fazer e ainda chove!) e todos acabaram se amontoando sobre um único teto de alvenaria.
As pessoas pareciam bastante tranquilas com esta repentina mudança de planos. Enquanto uns grupos se divertiam com um baralho esquisito, outros simplesmente liam seus livros, seja em papel ou no formato digital; uns conversavam animadamente, outros preferiam descansar se embalando nas redes espalhadas pelo camping, enquanto outros  jogavam futebol insaciavelmente, ainda que sob forte chuva.
Um pouco antes do almoço (por sorte, nós teríamos uma reserva), demos uma voltinha no camping, para ver as frutas “exóticas”, tais como mamão, banana e jaca, além de um enorme ceibo, cujo tronco é mais largo que eu e a Flávia juntas de braços esticados horizontalmente.
O almoço estava fantástico (não podia desperdiçar nem um pedacinho do frango, pois ele poderia me fazer falta na luta pela sobrevivência), mas a repetição do prato era proibida, pois não havia alimento suficiente para todos os refugiados.
Mas o pior mesmo foi o anúncio feito por um guarda florestal para os turistas que estavam no acampamento: o governo anunciara que provavelmente passaríamos a noite evacuados, como medida de cautela!
No entanto, diferente dos moradores da ilha, que possuem parentes e conhecidos em fazendas nas partes mais altas, onde podem permanecer confortavelmente pelo período da evacuação, os turistas não teriam onde ficar, já que não há hotéis nesta parte da ilha.
E, além do mais, não haveria barracas de campings, nem colchões suficientes para aquela “cabeçada” que estava no local, o que fez com que o guarda tentasse nos “acalmar” informando que havia uma escola desativada onde teríamos pelo menos teto, embora tívessemos que dormir no chão frio!
Embora nosso bonzinho guia fosse totalmente destituído de iniciativa, logo após o anúncio tratamos de providenciar uma barraca e um colchão alugados pelo camping (se soubéssemos disso mais cedo, já teríamos providenciado a mais tempo) e assim que a barraca foi montada, entramos no nosso refúgio e aproveitei para tirar uma longa soneca até termos notícias de novidades.
Inicialmente eu não tinha entendido por que, mesmo após a vinda da onda cuja previsão seria às 17:30h, teríamos de permanecer evacuados. Foi então que o guia florestal respondeu a minha inquietação, esclarecendo que o tsunami é um fenômeno muito ‘interessante’ (!), já que após a primeira onda, podem vir quatro ou cinco em sequência, nas próximas horas, razão pela qual não teríamos autorização para descer antes deste período. E que talvez não seria conveniente realizar a “contraevacuação” pela madrugada.
As informações chegavam ao nosso acampamento com um significativo atraso em relação aos acontecimentos, através de um carro de som que anunciava o andamento dos acontecimentos. Embora as autoridades locais tenham informado que se reuniriam às oito da noite, só tivemos um pronunciamento oficial do guarda após uma espera angustiante.
Finalmente, às 22:15h, o guarda florestal anunciou que tinha sido decidido que retornaríamos a cidade a partir das 23h, mas que teríamos que fazê-lo em veículos do governo, já que carros particulares não estariam autorizados pelo exército a passar. 
Embora não tivéssemos compreendido a restrição, o momento não era o mais adequado para questionar, mas sim para comemorar.
O tsunami chegou como uma onda de dois metros de altura, causando, no porto de Santa Cruz e de San Cristóban, um regresso das águas do mar em trinta metros com um sucessivo avanço sobre a terra por uma extensão de uns três quarteirões, causando alguns estragos materiais, sem que, contudo, tenha havido quaisquer vítimas.
Muitas iguanas marinhas foram vistas sobre os telhados das casas (!) e as tartarugas que estavam na reserva Charles Darwin foram evacuadas juntamente com o solitário George!
Antes mesmo do horário estimado, os veículos “oficiais” já estavam disponíveis e resolvemos entrar no ônibus. No entanto, nosso guia foi barrado, sob a alegação de que aquele meio de transporte seria apenas para mulheres, crianças e idosos. Imediatamente descemos do ônibus para acompanhar nosso guia no próximo meio de transporte disponível.
Logo entendi a razão de tão esdrúxula exceção em relação às mulheres: quem não fosse de ônibus, teria que ter força o suficiente para subir na caçamba de caminhões destinados a transportar entulho!
No entanto, quando constatamos que não conseguiríamos subir nos caminhões já era demasiado tarde: o ônibus se fora.
Não nos restou, portanto, alternativa: com a ajuda dos peões, acabamos conseguindo subir na caçamba do caminhão, felizes por estarmos abandonando nosso campo de refugiados.
Ao colocar a mala no chão, senti que ele estava meio pastoso e molhado, que eu apenas torcia para que não fosse chorume, até porque não sabíamos qual era a função de nosso caminhão, que poderia ser perfeitamente de recolhimento de lixo. Por sorte, estava escuro o suficiente para não olharmos para o chão, mas assim que chegamos a civilização conseguimos enxergar, aliviadas, que se tratava apenas de folhas de árvores em decomposição. Obtive, também, a informação de que se tratava de caminhão para transporte de materiais de construção e não de lixo.
Caminhamos, felizes, em direção a nosso hotel, acompanhadas do funcionário que tivemos a sorte de reconhecê-lo na caçamba do nosso caminhão, pois, do contrário, teríamos que pular o muro do hotel para chegarmos ao quarto cuja chave havíamos levado por cautela.
12.03.2011
Embora o vôo estivesse previsto para 6:30h da manhã, acabou sendo cancelado às 6h, já que o governo não tinha dado permissão para operações aéreas. Embora tivessem avisado que 7:30h entrariam novamente em contato, ligaram apenas às 8h da manhã, dizendo que estaríamos saindo em dois minutos para pegar uma lancha, já que não haveria vôo de Isabela para Baltra, onde pegaríamos nosso avião ao meio dia.
No entanto, nosso barco apenas saiu às 8:45h e, depois de duas horas de desagradável viagem pelo mar agitado, chagamos em Porto Ayora, Santa Cruz, onde ainda teríamos que pegar quase uma hora de estrada, um barquinho para Baltra e mais um transfer público para o aeroporto. Resultado óbvio: perdemos o vôo - quando chegamos o embarque já tinha terminado.
Apesar da absoluta incompetência do nosso receptivo, que chegou ao cúmulo de dizer que a prestação de serviços de sua empresa havia terminado ali e que seria para a gente se virar, tivemos a presença de espírito de comprar um tiket de outra empresa aérea (Aerogal), já que o próximo vôo da Lan seria tarde demais para conseguirmos chegar a tempo para pegar o vôo da Taca de Gayaquil para o Rio de Janeiro.
Enquanto íamos a pé em direção àquele imenso avião, me imaginava em um filme holywoodiano de aventura com um final feliz, no qual eu estava sendo resgatada por um avião exclusivamente contratado para este fim, a fim de ser transportada sã e salva para minha cidade natal!